terça-feira, 7 de junho de 2011

ALIMENTOS CAMUFLADOS

Carmim : corante do sorvete e iogurte vem de inseto

Cresce o uso do corante natural extraído da chamada cochonilla carmim. Consumo do pigmento cresceu 30% nos últimos 10 anos em todo o mundo.

Ele está na maioria das gelatinas e iogurtes vermelhos, no sorvete de morango e até em embutidos de carne. Ainda assim poucas  pessoas já ouviram falar do carmim, corante natural extraído do inseto Dactylopius coccus costa , nome científico de uma espécie de cochonilha, conhecida como parasita de plantas.
O uso do carmim movimenta US$ 75 milhões ao ano no mundo. O consumo internacional desse pigmento aumenta devido à sua pureza e ao uso na indústria de alimentos. No Brasil não se produz carmim, pois não existem condições ideais para a produção da matéria-prima que gera o pigmento.

Mais antigo do que se pode imaginar, o ácido carmínico era originalmente utilizado pelo povo mexicano asteca para tingir tecidos e foi introduzido na cultura ocidental por volta de 1.500 pelos colonizadores espanhóis. De lá para cá, não se encontrou substituto à altura. Embora a utilização de corantes sintéticos no início do século XXI tenha reduzido drasticamente a participação do produto no mercado, logo na década de 80 estudos indicavam problemas causados pela alta toxidade do pigmento artificial vermelho. Foi aí que o carmim voltou à pauta, sendo o principal corante de alimentos utilizado hoje.

Peru

Atualmente, o Peru concentra a produção de carmim, com cerca de 800 toneladas por ano. Em seguida vem o Chile, a Bolívia e as Ilhas Canárias. Um dos pontos atrativos para a produção de cochonilha é a sua cotação no mercado internacional. O preço do quilo de cochonilhas previamente secas após a extração é de cerca de US$ 15 a US$ 20, mas já chegou a US$ 100 em "safras menores".

Para entender o porquê desse valor, basta verificar que para cada um quilo de cochonilha carmim são necessários nada menos do que 150 mil insetos, em média. Já para a extração de um quilo de ácido carmínico, base para a produção das variedades de pigmentos vermelhos, é preciso o processamento de seis a oito quilos de cochonilhas.

Produção

A "colheita" desses pequenos animais acontece em maior parte na região dos Andes, por meio do extrativismo que mantém milhares de famílias na América do Sul. A planta na qual a cochonilha carmim se fixa é uma espécie de cactus ( Opuntia fícus ) que é muito utilizado como cerca das casas peruanas. De acordo com informações da Christian Hansen, a maior indústria de produção de carmim e dona de uma base no Peru, existem apenas duas propriedades voltadas exclusivamente à produção de cochonilha. "A maior parte do fornecimento provém de famílias que fazem a coleta dos animais informalmente e vendem aos atravessadores da comunidade em que vivem", diz Mirian Moraes, coordenadora de comunicação da empresa distribuidora do corante no País.

Numa etapa à frente, a produção do pigmento é realizada com o processamento das cochonilhas, a partir da extração do ácido carmínico contido apenas nas fêmeas. As tonalidades de cor vão depender do pH. Em soluções mais ácidas, a coloração será mais alaranjada. Em soluções alcalinas, a cor tende a tons de violeta. "A capacidade do ácido reagir a soluções metais propiciou o seu uso na manufatura do pigmento vermelho conhecido como carmim, cuja tonalidade varia de rosa à púrpura", diz Mirian, acrescentando que as indústrias farmacêutica e de cosméticos usam o corante.

Consumo

Além de todas as questões curiosas que cercam a história desse corante, o fato é que, ao lado do urucum, da páprica, da cúrcuma e de outros corantes naturais, o carmim eleva sua participação no mercado de pigmentos. Seu consumo aumentou em 30% nos últimos 10 anos. A estimativa é de que o mercado dos corantes naturais como um todo já movimente US$ 700 milhões, o que representa uma alta em torno de 40% no uso nos últimos 10 anos em todo o mundo.

Inseto se espalhou pelo Nordeste

Curiosamente, no Brasil já se experimentou a implementação da cultura da cochonilha carmim, mas o resultado foi que o inseto se tornou uma praga no sertão nordestino e, até o momento, ainda se discute como exterminar a cochonilha, que se alimenta do único alimento dos rebanhos regionais resistente aos períodos de estiagem no Nordeste. A perda do controle no crescimento da população de cochonilhas ocorreu a partir de uma experiência da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária em meados de 1999, no município de Sertânia. A idéia era oferecer mais uma opção de renda para o sertanejo por meio da coleta dos insetos.

Ao contrário do que se previa, a cochonilha consolidou-se e extrapolou os limites da área experimental, atingindo também o estado da Paraíba. "Para piorar, temos conhecimento de que é inviável a produção do ácido carmínico por meio do processamento dos animais que infestam o sertão, provavelmente devido às condições climáticas encontradas na Região Nordeste", informa a empresa Christian Hansen do Brasil.

Autor: Juliana de Moraes  
Fonte: DIÁRIO DO COMÉRCIO


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